Uma crença cultural específica que causa problemas para muitos pacientes é a fantasia do “único amor verdadeiro”. Os relacionamentos já são dificeis o suficiente, mas se tornam quase impossíveis quando a única bússola a orientare o paciente é uma fabula cultural. Uma das fábulas mais antigas sobre o amor vem do oriente. Muitos pacientes têm descrito versões desta história.
Conta a lenda que homens e mulheres não eram entes separados, mas juntos formavam uma única pessoa. Certo dia um demônio, zangado com Deus, dividiu a alma em duas partes – masculina e femenina. Feito isso, arremessou as duas partes em direção ao vento norte, espalhando-as pela terra.
Daquele momento em diante, homens e mulheres passam suas vidas tentando encontrar a metade que lhes falta. Existe apenas um par perfeito para cada pessoa. Se encontrarem a metade que falta, seu único amor verdadeiro, ficarão etrnamente felizes. Se não, só lhes resta continuar vagando pelo mundo à procura – solitários e inconsoláveis. Essa fábula ensina uma moral devastadora e provoca muitos problemas entre homens e mulheres. Muitos casais rejeitam bons parceiros em potencial porque encontram neles alguma falha. Idealmente, seu único amor verdadeiro não pode ter defeitos.
Podem passar por vários relacionamentos procurando pelo par ideal, rejeitando parceiros promissores por causa de uma imperfeição. Quando percebem a futilidade de sua busca, podem se dar conta de que é tarde demais para encontrar quem quer que seja.
A mesma fórmula pode estar atrás de alguns problemas conjulgais. Em algumas culturas mais da metade dos casamentos acabam em divórcio. Em geral, estes relacionamentos acabam bem. Um rapaz e uma moça se conhecem e se apaixonam. No inicio, tudo é romantico e excitante, mas dentro de alguns anos a relação perde seu encantamento; o casal se aborrece e se desilude.
Pode haver inúmeras razões pelas quais os casamentos acabam – perda de novidade, monotonia sexual, problemas com a familia do conjugue, insegurança financeira, afastamento da família de origem, a facilidade em se obter um divórcio, infedelidade e assim por diante – além disso a fabula pode estar espreitando pro detras de muitas destas razões.
A razão pela qual essa crença é tão devastadora é que ela ensina os jovens a esperarem muito do casamento – uma união perfeita, um único amor verdadeiro, tornar-se inteiro e completo.
A fabula se espalhou para todas as culturas, com a única diferença residindo na definição de perfeito. Um americano pode definir a perfeição de um casamento em termos de riqueza e status, enquanto para um australiano pode significar companheirismo. Para um habitante das ilhas do Pacifico, o casamento perfeito pode significar serenidade e filhos, enquanto em outras culturas podem esperar um romance permanente.
As expectativas escalam as montanhas, enquanto a realidade, sentada lá embaixo, ainda tenta colocar as meias. A realidade do casamento se estilhaça contra a fábula do verdadeiro amor: o casal americano enfrenta a recessão economica, a esposa australiana encontra o companheirismo machista, o marador das ilhas do pacifico descobre que é loucura juntar serenidade e filhos numa mesma frase a fabula gerou muitas outras superstições:
Para ser feliz você precisa que seu conjugue ame você o tempo todo Quando seu conjuge comete um erro você deveria criticá-lo e censurá-lo Em um bom casamento voce sentirá desejo sexual apenas pelo seu conjuge
Deve ficar chateado quando seu casamento não é ideal O amor é tudo que precisa para que o casamento de certo Orgasmos simultanios não são o suficiente para uma boa vida sexual Bons casamentos não tem problemas serios Seu parceiro deveria adivinhar suas necessidades e desejos
As crianças sempre tornam um casamento mais feliz Nos bons casamentos os casais fazem tudo juntos